CONHECIMENTO PARA UMA VIDA MELHOR

25/10/2016 03:18

Farmacêutica e educadora em diabetes, Mônica Lenzi destaca a contribuição da farmácia no difícil desafio de ensinar o diabético a cuidar de si mesmo.

 

O que sua experiência e o seu contato diário com esses pacientes têm lhe ensinado sobre a doença?

Mônica: Primeiramente, que o tratamento é individualizado. Quando temos uma dor de cabeça, tomamos um analgésico, mas com a diabetes é diferente, pois as pessoas não são iguais e reagem de forma distinta em relação à alimentação, à medicação e até à atividade física. Dessa maneira, devemos atentar aos detalhes, como detetives, buscando identificar em que podemos melhorar ainda mais o tratamento de cada indivíduo. Por mais recursos que tenha o paciente diabético, com acesso aos melhores medicamentos e insumos, sem conhecimento seu tratamento estará comprometido. Existem duas palavras para um tratamento eficaz: disciplina e educação. A primeira é de cada indivíduo, que deve mudar o estilo de vida. A educação, por sua vez, será obtida por intermédio do profissional de saúde que estará lhe dando apoio. É nesse momento que entra o farmacêutico.

 

O que as pessoas precisam, de fato, saber sobre o diabetes?

Diabetes é uma pandemia, ou seja, uma epidemia mundial. Atualmente, existem mais de 395 milhões de diabéticos no mundo. O Brasil tem cerca de 12 milhões e ocupa o quarto lugar no mundo em número de casos, perdendo somente para China, Índia e Estados Unidos. Importante acrescentar que a diabetes é classificada em dois tipos principais. O tipo 1 é uma doença autoimune, que destrói as células beta pancreáticas, responsáveis pela produção de insulina. As pessoas portadoras do tipo 1 devem aplicar insulina diariamente, cuidar da alimentação e fazer atividade física. Elas correspondem a cerca de 10% dos casos de diabetes. O tipo 2 é uma doença que afeta a insulina produzida pelo pâncreas, tornando-a insuficiente ou incapaz de desempenhar seu papel adequadamente, o que chamamos de resistência insulínica. Esse tipo de diabetes promove a elevação dos níveis de açúcar no sangue e correspónde a cerca de 90% dos casos. Quando não tratada, a diabetes provoca consequências devastadoras, podendo levar à perda da visão, amputações, AVC, disfunção erétil, entre outros problemas. Elevando nível de conhecimento das pessoas sobre os riscos da diabetes descontrolada, podemos minimizar o surgimento das complicações ou, até mesmo, de novos casos entre a população.

 

Os portadores de diabetes estão preparados para o autocuidado? Sabem cuidar dos medicamentos e dos acessórios corretamente? Quais são os erros mais comuns?

Mônica: quanto mais conhecimento o diabético tiver sobre sua condição, sobre a doença e como ela pode afetar a vida dele, mais controle dos niveis de açúcar no sangue ele vai conseguir. Conhecer os locais de aplicação de insulina, saber como os alimentos influenciam a glicose, fazer as medições de glicose corretamente, interpretar de forma adequada os resultados dos testes, seguir a prescrição médica e armazenar e transportar a insulina com segurança são alguns exemplos de orientações que devem ser dadas aos diabéticos pela farmácia. Geralmente, por falta de conhecimento, os diabéticos não fazem rodízios dos locais de aplicação de insulina, escolhem inadequadamente o tamanho das agulhas, não higienizam as mãos antes dos testes e abandonam o tratamento quando os sintomas desaparecem.

 

Disciplina e educação, para você, são duas importantes palavras para o controle da glicemia. Se a disciplina depende somente do doente, de quem depende a educação? Como ter acesso a ela em um país com número enorme de pessoas excluídas social e economicamente?

Mônica: A disciplina vem com a mudança de hábitos. Já a educação deve ser promovida pelos profissionais de saúde que assistem pessoas diabéticas em clínicas, hospitais privados e públicos, postos de saúde, farmácias. Vem daí a necessidade de capacitar, cada dia mais, um número maior de profissionais para o atendimento ao diabético.

 

                                                                                                           REVISTA DA FARMÁCIA (ASCOFERJ)

Ano 24 – Edição 188 – Setembro – Outubro 2015